domingo, 12 de julho de 2009

Comunicação em Projetos: Como superar a visão mecanicista


Comunicação e projetos: dois substantivos que quando se relacionam na dinâmica da Gestão de Projetos quase sempre criam “ruídos” em detrimento de uma comunicação eficaz. Causam entropia.

Apesar de estar associada necessariamente ao sucesso ou ao fracasso de um projeto, considerada como Fator Crítico de Sucesso (FCS) por diversos especialistas em gerenciamento de projetos, a comunicação em projetos é ainda bastante negligenciada pela maioria dos gestores desses empreendimentos e pelas áreas de comunicação das organizações, conforme apontam as pesquisas.

Análise detalhada da série histórica da pesquisa de benchmarking realizada pelo Project Management Institute (PMI) no Brasil com gestores de projetos de diversos segmentos econômicos, evidência a dificuldade deste “diálogo”:

No ano de 2003, o não alinhamento das expectativas do cliente em relação à realidade do projeto foi considerado a principal causa de insucesso em projetos, o que indica problemas no planejamento da comunicação. A pesquisa de 2004 ressaltou que 70% dos participantes consideraram que os problemas ocorridos em projetos têm suas raízes ligadas às questões de comunicação. De 2005 a 2008 a comunicação foi reiteradamente considerada como o problema mais freqüente no gerenciamento de projetos.

Um olhar investigativo sobre as organizações participantes desta enquete mostra que um grande número delas possui setores de comunicação interna (que em alguns casos participam do Prêmio ABERJE) com múltiplas competências que poderiam contribuir para o sucesso na execução desses empreendimentos. Pelos dados da pesquisa isso não vem ocorrendo.

É um contra-senso perto de todos os avanços e conquistas da comunicação corporativa. Reconhecida como elemento estratégico para a competitividade das organizações, estruturada de forma multidisciplinar, baseada em métodos e técnicas de relações públicas, pesquisa, marketing, publicidade, propaganda, jornalismo, promoções e recursos humanos ela é “tão fundamental que o envolvimento dos principais gestores de uma empresa em seu management transformou-se em vantagem competitiva”. Porém, à luz das necessidades dos gestores de projetos, a comunicação ainda é um grande problema.

Diante deste dilema, cabe perguntar: se a comunicação é tão importante para o sucesso dos projetos, reconhecida pelos seus próprios gestores como fator crítico de sucesso na implantação dos empreendimentos, capaz de auxiliar no controle do escopo, tempo e custo, por que motivo, durante todos esses anos em que a pesquisa de benchmarking vem sendo realizada, esta questão se repete? É um problema da formação dos gestores de projetos ou uma desfuncionalidade da comunicação?

Qualquer escuta pró-ativa desse “falatório” nas organizações, ou melhor, da relação entre a comunicação e a gestão de projetos, exige uma adequação do olhar nos moldes do que foi preconizado pelo filósofo da ciência Thomas Kuhn. Estamos diante de uma nova realidade? Um novo paradigma? Quando isso ocorre, temos que questionar nossas verdades, desestruturar modelos, redefinir pensamentos, alinhar nossas emoções para evitar a repetição, calibrar o olhar e ver a diferença.

É possível que o principal problema para se criar uma cultura eficaz voltada para a elaboração, implantação e controle dos processos de comunicação em projetos seja a própria “comunicação”. Vivemos em uma sociedade com excesso de “comunicação”. O gestor do projeto e sua equipe praticam “comunicação”. É esta “comunicação” que constrói escopo, segmenta stakeholders, informa os riscos, cobra resultados e integra as equipes. É esta mesma “comunicação” que divulga a ausência de uma “comunicação eficaz”. No mundo onde “tudo é comunicação”, a negativa desta sentença neutraliza a maioria das heróicas tentativas de sucesso da comunicação.

Não se trata de falta de competência da comunicação, mas de uma reflexão crítica sobre esse “lugar” (projetos) em que esta comunicação se realiza. Provavelmente, os conhecimentos e o modelo atual de comunicação utilizado em projetos não respondem aos novos desafios das organizações projetizadas. Os paradigmas atuais cegam nossa percepção evitando que o cérebro processe uma nova alquimia.

Fonte: www.aberje.com.br

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